Livro “Três poetas – na periferia do simbolismo” resgata autores do simbolismo em Pernambuco

Esquecidos pela crítica da época, poetas têm reconhecimento tardio em publicação do professor da UFPE e escritor Fábio Andrade. O lançamento do e-book acontece nesta quinta-feira, às 17h, na Editora UFPE, na Cidade Universitária. De autoria do professor de Letras da UFPE e escritor Fábio Andrade, o livro “Três poetas - na periferia do simbolismo” resgata e analisa o trabalho de três dos mais importantes poetas desta fase em Pernambuco: Mendes Martins, Domingos Magarinos e Agripino Silva.

Poetas que experimentavam com palavras e versos livres, que escreviam sobre sombras, melancolia e desencanto com as mudanças do mundo na virada do século XIX para o século XX. Durante 40 anos, o Recife teve uma expressiva produção de poesia simbolista, esquecida pela crítica nacional. “Eles ficaram esquecidos por décadas porque não eram poetas que estavam inseridos em um grande centro cultural e não existia uma crítica literária forte no Recife da época. Além disso, havia um forte preconceito contra a poesia simbolista feita no Nordeste”, conta o autor. O livro, que tem incentivo do Funcultura e apoio da Editora UFPE, estará disponível para download gratuito no site da Editora UFPE (www.editoraufpe.com.br) a partir do dia 29 de junho.  
O projeto é um desdobramento do livro “O Fauno dos trópicos”, lançado em 2015, e que trouxe pela primeira vez um panorama do simbolismo em Pernambuco, com o mapeamento de 13 poetas.  “Os três deste novo livro são os que considero mais importantes. Cada um representa uma característica do simbolismo. Mendes Martins é o que melhor expressou o decadentismo – vertente mais melancólica e subjetiva do simbolismo. Domingos Magarinos  é o simbolismo mais puro, com influência de Cruz e Souza. E Agripino da Silva já faz uma mistura com o parnasianismo”, explica Fábio.  “A ideia da minha pesquisa é mostrar que Pernambuco foi um local importante para a produção do simbolismo no Brasil, mesmo estando fora do eixo”.
Vários fatores ajudaram o Recife a produzir poesia simbolista de qualidade. Um deles foi a inauguração do Derby Centro Comercial – uma espécie de precursor dos shoppings centers, incendiado em 1902 –, que virou ponto de encontro dos poetas. Lá, funcionava a única filial da Livraria Francesa – a matriz ficava no Rio de Janeiro. “Os recifenses tinham contato direto com a produção dos autores europeus. Além dos franceses – Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Verlaine - os simbolistas portugueses também influenciaram muito os pernambucanos”, conta Fábio Andrade. 
Mas ao contrário do que aconteceu na França, onde o simbolismo de Baudelaire se sobrepôs ao parnasianismo, no Brasil os poetas simbolistas foram colocados à margem. “Eram os poetas undergrounds da época. Como o simbolismo vinha da França, foi lido como algo importado, que não tinha a ver com o espírito do brasileiro. Há também um fundo político muito forte. Era uma época de muita crença na ciência, de racionalismo. E esses poetas aparecem mostrando um mundo não tão rosa assim. Eles insistem em certas dimensões esquecidas do ser humano, se contrapondo ao positivismo”, diz Fábio. 
Houve também preconceito da crítica contra os nordestinos, mesmo após o fim do simbolismo, compreendido entre as duas primeiras décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX. “A partir dos anos 1930 e 1940 começou uma reabilitação do movimento. O crítico José Cândido de Andrade Muricy teve interesse pelo tema e apresentou um panorama do simbolismo no Brasil. Mas mesmo ele vai incorrer no erro de que o simbolismo aconteceu apenas nas regiões Sul e Sudeste, porque, na visão dele, são regiões mais frias e com colonização europeia. Ele cita apenas quatro poetas pernambucanos no panorama, todos eles com vida literária fora do estado. A cena literária no Recife foi totalmente ignorada”, afirma. 
Principal estudioso do simbolismo pernambucano, Fábio Andrade se debruçou sobre coleções particulares, acervos especiais da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, do Gabinete Português de Leitura e do Arquivo Público, em uma pesquisa que se estende ao longo de mais de 15 anos.  Muitos dos poemas que estão em “Três poetas – a periferia do simbolismo” são inéditos em livro. Isso porque as obras eram publicadas em tiragens limitadíssimas, em revistas em que muitas vezes os próprios autores bancavam as impressões. As principais revistas simbolistas foram a Heliópolis, impressa no Centro do Recife, e a Alma Latina, com impressão no bairro de Beberibe.
Serviço:
Lançamento do e-book “Três poetas – na periferia do simbolismo”
Quinta-feira (29), às 17h
Editora UFPE (Rua Acadêmico Hélio Ramos, 20, Cidade Universitária)
O livro estará disponível para download gratuito no site da Editora UFPE a partir do dia 29: www.editoraufpe.com.br

Os três poetas:
Mendes Martins – Há quase nenhum dado bibliográfico sobre o poeta, a não ser que faleceu aos 41 anos no Recife. Seus poemas trazem como característica mais marcante a morte como uma experiência que pode ser vivida indiretamente. O medievalismo – ou seja, a volta de temas e personagens da era medieval – e uma profunda melancolia também são marcas do escritor. “Os interesses e estilos de vida influenciavam muito a obra dos simbolistas. Há poemas de Mendes Martins que trazem todos os preceitos gnósticos. Eram as ideias a serviço da poesia”, diz Fábio. 

Domingos Magarinos – Membro da tradicional família Souza Leão, passou a juventude no Recife, antes de se mudar para o Rio de Janeiro. Seus escritos trazem temas ocultistas, como a crença de uma civilização avançada na América pré-histórica, puritanos (a “mulher terrível”) e apresentam uma sonoridade que muitas vezes emula os poemas de Cruz e Souza. Magarinos também produziu poemas que se aproximam do pré-expressionismo europeu, algo raro no simbolismo brasileiro.

Agripino da Silva – Foi um poeta dividido entre a “túnica e o fraque”. Ou seja, entre o sonho e a ilusão do simbolismo e o apuro da técnica do parnasianismo. Foi um dos fundadores e editores da revista Heliópolis, uma das principais a divulgar o simbolismo em Pernambuco.  Sua poesia carrega forte inspiração da natureza, com jogo de cores.  “A obra de Agripino da Silva traz muita criação de palavras, neologismos. Há palavras que nem estão dicionarizadas. Essa experimentação é um dos fatores que separa o parnasianismo do simbolismo”, explica Fábio. 

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