Meu bairro... Moro aqui: Jaqueira

Parque da Jaqueira

Por Gianfrancesco Mello

Fotos: Laiz Monteiro

Desvendar um bairro sempre é um desafio. Nem todos se permitem ser observados com um olhar externo ou de quem é um simples transeunte do dia a dia. Para iniciar o ano de 2013, fomos em busca de um bairro que é atraente a todos, não pelos seus confins, todavia pelo aspecto recreativo neste mês de férias. A Agenda Cultural do Recife abre-alas para a Jaqueira, conhecido como bairro nobre da Zona Norte do Recife e que integra a 3ª Região Político-Administrativa da cidade, além de ser o segundo menor bairro do Recife, perdendo apenas para o Totó.

Parque da Jaqueira

Parque Jaqueira

A origem do local se deu em torno de uma propriedade rural chamada Sítio da Jaqueira, pertencente ao comerciante Bento José da Costa. O bairro tem uma das maiores rendas per capita da capital pernambucana, possuindo imponentes prédios, luxuosos apartamentos e flats, sendo habitado predominantemente pelas classes média e alta. Aqui, a maior parte da localidade é composta por área verde. Muito disso se deve ao Parque da Jaqueira, que fica entre a Avenida Rui Barbosa e a Rua do Futuro, confrontando com a Praça Souto Filho, no lado oposto.

Parque da Jaqueira - aqui, os pássaros também se encantam

Segundo a bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco, Lúcia Gaspar, o bairro teve suas origens no século XVII e em suas terras, no ano de 1633, ocorreram os violentos combates entre os comandados de Felipe Camarão e os holandeses, que tentaram tomar o forte do Arraial do Bom Jesus, em Casa Amarela. Em 1766, o proprietário do sítio naquela época, capitão Henrique Martins, construiu uma capela sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição de Ponte d’Uchôa, em estilo barroco, nome mudado posteriormente para Nossa Senhora da Conceição das Barreiras ou da Jaqueira (1781), por causa das árvores da região.

Parque da Jaqueira

Ainda de acordo com a bibliotecária, antes da sua destinação como parque, a área passou por um período de abandono. Durante anos, foi sede do Campeonato Pernambucano de Futebol e da Feira do Comércio e Indústria de Pernambuco (Fecin). No ano de 1984, o terreno foi cedido à Prefeitura do Recife e, por meio da Lei federal nº 10.175, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foi autorizado a doar a área definitivamente ao município.

O parque reúne dois espaços distintos: o sítio histórico, onde se localiza a capela, e a parte destinada à prática de esportes, às atividades culturais e contemplativas. A capela foi tombada e restaurada na década de 1970, sendo emoldurada por um jardim de Burle Marx. A sua inauguração foi em 1985. Entre as atividades recreativas, destacam-se: pistas de Cooper (1.000m) e bicicross (400m), ciclovia (1.100m), patinação (600m) e instalações de apoio aos usuários. O local é palco, também, de programações culturais, eruditas, folclóricas e cívicas. Conta, desde a sua inauguração, com a Sociedade Protetora dos Amigos da Jaqueira (Sodepaja), que elaborou um regulamento para uso do parque. O Parque da Jaqueira é o maior em extensão do Recife.

Nossa guia Laiz Monteiro

Depois de adentrarmos o Parque da Jaqueira, a nossa guia, a publicitária Laiz Monteiro, levou-nos a pontos particulares que, muitas vezes, passam despercebidos pela agitação cotidiana de uma cidade grande. O nosso ponto de partida foi a vista do Parque para o Rio Capibaribe. De lá, passamos por três praças próximas: a Professor Fleming, que é bastante aconchegante, e Souto Filho, onde os moradores ao redor gostam de levar seus animais de estimação para passear, e a Elvira A. de Souza. Para manter a segurança dos moradores e visitantes, o bairro conta com um posto policial, localizado entre o Parque da Jaqueira e a Praça Souto Filho. Andando e apreciando a paisagem arborizada, chegamos até a Rua do Futuro. O local acolhe o Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC), que oferece suporte aos serviços de oncologia pediátrica do Recife por meio de apoio às crianças carentes em tratamento na cidade e seus familiares. Dessa maneira, o espaço proporciona as condições necessárias para que possam resolver todas as dificuldades inerentes ao tratamento. Ainda na Rua do Futuro, tivemos parada obrigatória na Spirit Music Hall, onde é realizado aos domingos o Samba do Futuro. A casa possui dois ambientes interligados, o Spirit Music Hall e o Spirit Sport Bar, com acessos independentes. Uma barra de futebol marca a entrada do Spirit Sport Bar, que pretende unir gastronomia, lazer e esporte. Há telões espalhados pelo bar, com exibição de jogos do campeonato brasileiro e principalmente da copa do mundo. Espaço reservado para jogos (dominó, gamão, sinuca, games etc.). A Spirit Music Hall é um dancing-bar climatizado que oferece uma programação bem eclética, alternando ritmos como rock, forró, MPB, música eletrônica, que fazem a alegria da casa.

Samba do futuro, no Spirit Music Hall

Piscina da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB)

Perto dali, na Avenida Doutor Malaquias, existe a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), que foi fundada em 1939, mas sua história começou quase uma década antes, em 1931. Depois da revolução de 1930, a sociedade passou a se unir em instituições, sejam beneficentes, esportivas, culturais ou sociais. Os funcionários do Banco do Brasil criaram então a sua, com o nome de Satélite Clube do Recife, para a prática do futebol. A equipe formada por contínuos, serventes e alguns escriturários do banco colecionou várias vitórias na época, tornando-se líder entre os amadores da cidade. Quase uma década depois, uma reunião no dia 10 de junho de 1939 alterou o nome do clube provisoriamente para Sociedade Cultural dos Funcionários do Banco do Brasil em Pernambuco. Após consultar colegas no Rio de Janeiro, acabou-se optando pelo nome definitivo de Associação Atlética Banco do Brasil. Ao longo dos anos, a AABB Recife se modernizou e ampliou seu patrimônio, dispondo hoje de uma estrutura invejável, que inclui quadras de tênis cobertas, campo de futebol society, piscinas, ginásio de esportes, espaço para prática de artes marciais, restaurante, bar, estacionamento, sauna, sala de estudos, biblioteca, salão de beleza, camarim, academia de ginástica e sala de sinuca, auditório, parque infantil, entre outros.

Livraria Jaqueira

De acordo com Laiz Monteiro, outro espaço atrativo é a Livraria Jaqueira, que fica na Rua Antenor Navarro. “Além de vender livros, promove eventos culturais e as pessoas costumam se encontrar para fazer um lanche ou tomar um café.” A Livraria Jaqueira iniciou suas atividades há quatro anos e, atualmente, conta com duas lojas na Zona Norte do Recife: uma, no bairro da Jaqueira e outra, no pátio interno do Colégio São Luis, nas Graças. Com espaços climatizados e aconchegantes, a Livraria tem como carro-chefe dois segmentos: títulos variados e atualizados com as tendências de mercado, e os didáticos, acompanhados de toda linha de material escolar. O foco da Jaqueira é ser uma livraria completa, com uma equipe qualificada para o atendimento em todos os serviços, da livraria aos demais setores disponíveis como gráfica rápida, informática, revelação, cafeteria, presentes, brinquedos e serviço de manobrista. Além disso, periodicamente, o espaço promove eventos voltados para toda a família. Nessa mesma rua, deparamo-nos com o Pagode do Caldeirão, balada animada do público jovem.

Academia Pernambucana de Letras

Falando em leitura, na Avenida Rui Barbosa, encontramos a Academia Pernambucana de Letras (APL), que foi fundada em 26 de janeiro de 1901 por Carneiro Vilela e outros escritores pernambucanos da época, com um total de 20 cadeiras. Ela foi precedida apenas pela Academia Cearense de Letras, pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia Paraense de Letras. A Academia Pernambucana de Letras foi criada em dependência do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, cedida para sua instalação. Em 1966, o então governador Paulo Pessoa Guerra desapropriou o solar que foi residência do Barão Rodrigues Mendes, projetado pelo arquiteto Louis Léger Vauthier. A propriedade foi doada à Academia Pernambucana de Letras e passou a ser sua sede.

Galeria da Jaqueira

“Além disso tudo, a Jaqueira possui bares, lanchonetes, padarias, bancos, barraquinhas de água de coco e frutas, colégios e ainda rolam os passeios ciclísticos do projeto Corujaqueira todas as terças-feiras, à noite”, pontua a nossa guia. O evento existe, com esse nome, desde agosto de 2004. Ele surgiu graças a um grupo de amigos que sentiu a necessidade de pedalar durante a semana, para aumentar o preparo físico e curtir melhor as trilhas de Mountain Bike no fim de semana. Esse grupo se chamava Venture Bikers. O projeto continua com suas diretrizes de sempre, ou seja, receber muito bem os iniciantes, os veteranos que estão retornando, os integrantes de outros grupos, enfim, todos que curtem pedalar e circular pela cidade, estar em constante contato com a natureza e fazer bons amigos.

Depois de um extenso passeio por esse bairro pequeno, no entanto, com muito a oferecer, voltamos ao nosso ponto inicial: o Parque da Jaqueira. Não poderia ser diferente. O lugar carrega uma beleza própria, além de um clima harmonioso. De lá, ainda observamos a Galeria da Jaqueira, que possui lojas de roupas, presentes, academia de ginástica, lanchonete e material decorativo... Contudo, a noite chega e, com ela, o adeus a esse lugar mágico que reserva um passado instigante e, ao mesmo tempo, rico de cultura, lazer e entretenimento. Na verdade, não diremos adeus, mas um até logo, porque quem passa e conhece o bairro da Jaqueira, volta e o visita por muitas outras vezes.

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