Novos tempos para as artes plásticas


A evolução da tecnologia há tempo já se faz presente em nossas vidas, hoje basicamente todas as profissões usufruem dos recursos provenientes da modernidade. Sendo assim, a Agenda Cultual do Recife caiu em campo para saber como está o mercado das artes no Estado.


Por Erika Fraga. Fotos: Divulgação

Reconhecido e consagrado mundialmente, Pernambuco encontra-se na rota das grandes exposições internacionais. Com uma estrutura invejável, o Estado detém vários espaços culturais. Entre os mais conhecidos, estão a Caixa Econômica Cultural; Centro Cultural dos Correios; Galeria Janete Costa; Santander Cultural e a Torre Malakoff, todos com equipamentos de última geração. Além desses espaços, temos excelentes museus como: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM); Museu do Estado; Museu Murillo  la Greca; Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC); Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), entre outros. Encontramos também inúmeras galerias comerciais, eventos de artes visuais (SPA das artes, Olinda Arte em Toda Parte e o Salão de Artes Plásticas de Pernambuco) e algumas leis de incentivo à cultura (Editais da Fundarpe, Editais do Ministério da Cultura e Editais da PCR). Mesmo com toda essa estrutura, definir o atual momento em que a artes plásticas se encontra é uma missão delicada, pois quando se trata desse assunto as opiniões se divergem, por isso fomos conversar com Roberto Silva e Daniel Santiago, dois artistas consagrados, que acabam de comemorar 40 anos de dedicação às artes plásticas, para saber o que eles pensam sobre o atual mercado das artes em Pernambuco.

As artes plásticas do Estado estão divididas em vários grupos e momentos, foram vítimas da ditadura militar, dos críticos de arte e até da globalização, mesmo assim, conseguiram superar todas as barreiras e se destacar no cenário internacional. A nossa linhagem artística foi formada por vários movimentos, como o Movimento Armorial constituído por Ariano Suassuna; o Movimento Pós-Moderno no qual se destacou Jomard Muniz de Britto e também a forte poesia visual marcada pela era da arte postal encabeçada por grandes nomes como Silvio Hansen, Paulo Bruscky e o próprio Daniel Santiago. Todos esses nomes, entre vários outros, influenciaram, mesmo que inconscientemente, a nova geração de artistas que estão se destacando no mercado como, por exemplo, Pedro Melo, Manoel Quitério e Heitor Pontes.

Segundo o artista plástico Daniel Santiago, o cenário das artes já não é mais o mesmo, para ele, as novas tecnologia como a internet fazem com que a pintura, a gravura e o desenho – esse tipo de arte mais duradoura – fiquem esquecidos pelas novas gerações. “O conceito de arte já mudou e não estamos enxergando, só daqui a uns 50 anos é que alguém vai saber reconhecer que em 2012 as artes já haviam mudado”, explica. Ainda segundo Daniel, a lentidão para reconhecer essa mudança é reflexo dos artistas antigos que ainda acreditam que a arte é como era antes. “Nos dias de hoje, pintar um quadro é uma coisa dificílima, precisa-se de muito material, de muitos equipamentos e leva tempo. Tenho em casa telas, pincéis e tintas, mas estão “enferrujando”, já que não tenho tempo para pintar. Já pintei muito nas ruas com um cavalete, pois tive uma formação acadêmica (na Escola de Belas Artes de Pernambuco) e aprendi todas as técnicas, mas quando a tecnologia chegou, eu a aderi, pois temos a opção de aderi-la ou não”, pontua o artista.

Cebolas Iluminadas de Daniel Santiago.
Foto do Diario de Pernambuco
A influência que a tecnologia vem gerando nas artes plásticas já pode ser vista nos trabalhos desenvolvidos por Daniel Santiago. Em 2011, ele realizou uma exposição intitulada Cebolas Iluminadas, que foi gerada com base em uma fotografia capturada de uma de Webcam (em baixa resolução) e ampliada no Corel Draw (um programa de edição), no qual se realizou um estudo sobre as sobras e as luzes.  “Atualmente, os instrumentos que uso para fazer arte são outros, pois já é possível pintar com a fotografia. Uso a máquina fotografia com um olhar diferente, buscando transmitir a pintura na fotografia e dessa forma consigo, através das lentes, capturar tons que também podem ser reproduzidos em uma tela com tinta óleo”, revela.

No entanto, segundo Roberto Silva, um defensor da arte tradicional, existem verdadeiros heróis da arte no Estado, já que o reflexo dessas novas tecnologias está acabando com o mercado de artes. “A arte conceitual está fazendo com que as galerias fechem, como já aconteceu com muitas galerias mundo afora, e isso, logo, logo chegará aqui”, afirma. Ainda de acordo com o crítico de arte, a arte conceitual obriga o artista a ser culto, ele tem que estudar, entender de economia, cultura, dos problemas sociais, ele tem que se envolver com a sociedade. “É muito bonito dizer que o artista é um palhaço que diverte a todos, mas é bom lembrar que ele tem uma função social muito importante. Porém, os governos totalitários não aceitam isso e acham melhor confundir o sentido para não ter seus planos atrapalhados”, esclarece.

Por outro lado, ambos concordam (Daniel Santiago e Roberto Silva) que estamos vivenciando uma era muito oportuna para os artistas plásticos, pois finalmente as leis de incentivo à cultura estão cumprindo o seu dever de proteger, apoiar e estimular a produção local.  “Estou muito satisfeito com os tempos em que estou vivendo, os espaços culturais e as galerias são de primeiro mundo, basta ver a galeria Janete Costa. Ela tem uma estrutura estonteante; e por falar nela, tenho umas ideias para apresentar, espero que a Joana d’Arc (diretora da galeria) tope, e se ela tiver coragem de fazer vocês podem aguardar algo muito especial. [risos]”, revela Daniel.

Contudo, ainda está faltando uma compreensão exata do que são artes plásticas, já que a arte nasce da ideologia de cada ser e como nem todos pensam de modo igual, existe essa pluralidade de conceitos. Para Roberto, atualmente está faltando sensibilidade visual para quem produz e para quem compra, já que atualmente a moda é reproduzir o que rola na internet. Ainda segundo Daniel, as artes mudaram, a pintura não é apenas no papel, podemos tê-la na pele, hoje a rotina é mais acelerada, ninguém para, então é bem mais fácil se fazer uma performance, que dura 5 minutos, do que pintar um quadro, que pode levar horas.  Porém, é importante que seja levado em consideração, seja na arte pós-moderna ou na arte mais tradicional, a responsabilidade que existe por trás de todo movimento artístico, temos que ter responsabilidade com a mensagem que é passada para a população, afinal, a arte também tem exerce o papel de formar uma sociedade mais crítica.

Perfil
   
Daniel Santiago

O artista pernambucano, nascido em Garanhuns (Agreste do Estado), iniciou suas atividades artísticas como desenhista publicitário, ao todo foram dez anos trabalhando nessa área. “Sempre quis ser um desenhista publicitário, na época era uma coisa muito bacana, não existiam as tecnologias de hoje, então você tinha que desenhar tudo, sendo assim, eu desenhava as letras e as figuras para sair no jornal”, relembra Daniel.  Só depois, ele ingressou na Escola de Belas Artes, onde passou a fazer algo completamente diferente do que fazia em sua carreira publicitária. E foi também a partir daí, que ele começou a trabalhar nas ruas realizando performances e obras estáticas, que  lhe proporcionaram um merecido destaque internacional. 

Este ano, o artista realizou a mostra Daniel Santiago – De que eu tenho medo, que ficou em exposição até o mês de junho no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Durante este mês, ele estará em São Paulo, na Galeria Jaqueline Martins, apresentando a mostra chamada Caligrafias, que se trata de uma série de artes caligráficas, feitas há 40 anos, mas que ainda é considerada moderna. “Além dessa exposição, estou desenvolvendo a proposta de fazer um trabalho com os tubos de desodorante roll on – porque o roll on, assim como a ponta de uma caneta, é esférico, então pretendo colocar tinta nos tubos e fazer uma série de caligrafias com os traços mais fortes”, revela. 

Atualmente Daniel está formando uma equipe para trabalhar com ele. Os estudantes de artes plásticas que tiverem interesse em aprender na prática é só entrar em contato com o artista pelo telefone (081) 3478-6665.

Roberto Silva

O artista plástico pernambucano e também crítico de arte realizou a sua primeira exposição coletiva em 1971, no Museu de Arte Sacra – JP. Ele, que também tem 40 anos de envolvimento com a arte plástica, possui uma trajetória dividida em duas fases. A primeira, com criações voltadas para o cosmo, devido à situação política enfrentada no Brasil, durante a ditadura militar, e a segunda fase com trabalhos ligados às questões sociais, fruto de uma temporada em que estudou em Roma, na Universidade de Arquitetura e Escola de Belas Artes.

Em 1971, junto com Silvio Hansen, ele criou um grupo chamado Movimento de Arte e de Pesquisa, que tinha o intuito de juntar os artistas para discutir arte. “Tivemos o auxílio de Gilberto Freyre, ele nós ajudou muito e isso nos fez perceber o quanto esse grupo foi importante para a arte de Pernambuco. E foi justamente através desse grupo que realizei a minha primeira exposição individual em 1973, no Museu de Arte Contemporânea”, conta Roberto.

Em 2011, ele comemorou 40 anos desde a sua primeira exposição coletiva, E agora, em 2013, fará 40 anos desde a sua primeira exposição individual. Como fruto de tantos anos dedicados à arte, ele lançará uma exposição chamada O comportamento do homem no espaço urbano, que traz como tema a pichação. “Essa pesquisa começou em 1980 e encerrou em 2008, nela eu apresento o comportamento do homem nos espaços urbanos, onde se detectou que existe uma interferência no inconsciente das pessoas que moram no centro da cidade e das pessoas que moram no campo, as imagens interferem no comportamento das pessoas”, conta. Mas só no segundo semestre de 2013, poderá ser visto o resultado total dessa pesquisa, a exposição acontecerá no Museu de Arte Contemporânea, em Olinda, e contará com o lançamento do livro e das obras de Roberto e de artistas convidados.

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