Por trás das cortinas: Márcia Cruz

Foto: Divulgação

Por: Joás Benedito

A cena teatral pernambucana vem crescendo a cada dia, com inúmeros talentos que vão surgindo de acordo o tempo. Até hoje, percebe-se que a escolha em fazer arte de um modo geral torna o indivíduo incomum aos parâmetros que uma sociedade exige, devido às tradições familiares ou à identidade cultural de um determinado lugar. Muitos artistas, com incentivos ou não, trazem esse destino desde o berço, formando grupos e coletivos teatrais que proporcionam o acesso para um mundo “incomum” que só a magia do teatro pode disponibilizar.

A paixão pela arte cênica começou ainda na adolescência, na escola, fazendo teatro junto com os amigos. Recentemente, recebeu o prêmio de melhor atriz Coadjuvante no Janeiro de Grandes Espetáculos com Essa febre que não passa, texto de Luce Pereira e direção de André Brasileiro e Marcondes Lima. Em conversa, Márcia Cruz fala um pouco de suas experiências teatrais, do trabalho com arte educação e das suas participações em coletivos e grupos teatrais.

Como você se identifica com o Coletivo Angu de Teatro? Quais são as propostas do grupo?
É um grupo que tem diversas ideias, propostas e posições. Ele foi se construindo com uma perspectiva de mostrar o teatro nordestino e urbano, que trata de questões da contemporaneidade, das nossas angústias como seres humanos inseridos nesse contexto globalizado e ao mesmo tempo sem perder nossas referências. O grupo foi buscando uma proposta para trabalhar com autores pernambucanos que também tivessem essa mesma visão, assim foi com Marcelino Freire, Newton Moreno e atualmente com Luce Pereira. Todos eles abordam questões da contemporaneidade e as relações humanas.

Como você classifica a diversidade teatral local?
Acho maravilhosa. Existem novos grupos que estão sobressaindo na cena nacional como O Ensaia Aqui e Acolá com O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas. Eles estão fazendo uma turnê nacional e eu fico feliz porque isso é a juventude do teatro pernambucano. Agora, as políticas para o teatro, nas esferas municipal, estadual ou federal estão restritas. Há avanços consideráveis e acho que é importante que os profissionais de teatro se posicionem para buscar um diálogo com essas instâncias, a fim de construírem políticas públicas que realmente ajam de forma efetiva e atendam às necessidades dos grupos teatrais daqui de Pernambuco.       

Durante esse tempo, como foi trabalhar com As Loucas de Pedra Lilás?
Trabalhei com as Loucas durante nove anos. Foi um trabalho maravilhoso. Fizemos teatro de rua, que é riquíssimo, além de ter tido toda essa questão do engajamento feminista, que nos dá subsídios para olharmos o mundo com um olhar mais crítico e ao mesmo tempo mais amoroso, ou seja, ele nos faz repensar os valores. Fizemos durante nove anos atuações com pessoas nos interiores e nos sertões. Era uma loucura, tínhamos lugares específicos para realizar as apresentações. Além disso, tínhamos o cinema e víamos que as pessoas se identificavam com os filmes, muitas vezes exibidos nos muros das igrejas. Foram experiências ricas nas Loucas que me ajudam até hoje com o meu trabalho com crianças.

Na época em que você fazia parte do grupo, como eram elaborados os trabalhos das Loucas de Pedra Lilás?
A forma de escrever das Loucas era interessante, porque eram pequenas cenas interligadas que tinham uma lógica, mas se tirássemos uma cena, poderíamos fazê-la isolada. Parecia até uma história em quadrinhos, tinha muita imagem e geralmente tinha um mote, por exemplo, se a cena estivesse falando sobre violência contra mulher ou homofobia... Havia várias cenas e às vezes pegávamos uma e construíamos vídeos ou spots para rádios. As Loucas têm essa forma de escrever que é interessante, com começo, meio e fim que estão interligadas entre um espetáculo e outro.

Como era associar o teatro de rua e o de palco? Qual era a sua relação com o publico nas Loucas?
Era tranquila em relação a isso por ser mais nova. Mas também não deixava de ser uma loucura, era época de faculdade e precisávamos viajar para os festivais e trabalhar com As Loucas... Estava tudo agendado e eu não tinha a noção de saber o que estava bom ou ruim, e para isso me valia da experiência de circular fazendo teatro. Passei um tempo fora e quando voltei comecei a trabalhar só com teatro de rua. Para mim foi uma experiência riquíssima e não existe algo que diga que foi pior ou melhor. A relação com o público no teatro de rua é olho no olho, é a mesma relação quando você faz teatro para criança. Tudo isso vem da minha experiência com as Loucas, fazendo teatro de rua. A relação com o público era uma relação desafiadora, mas sempre sedutora, o público sempre se envolvia, até porque lidávamos com questões pertinentes e intrigantes em performances que utilizavam aquelas mulheres com a cara pintada.

A adaptação do texto de Luce Pereira para a peça Essa febre que não passa foi pensada apenas para as mulheres?
Esse texto fala sobre o universo feminino, não necessariamente sobre a mulher, mas sim sobre as questões que as envolvem. As relações com criatividade, afetividade, homoafetividade, enfim, isso tudo toca homens e mulheres, talvez de maneiras diferentes, mas que fazem parte do universo do ser humano. São histórias intimistas. A Febre fala das relações humanas, da sensibilidade da relação com a maternidade, da velhice, da relação com o outro, da solidão. São coisas que tocam qualquer ser humano. 

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