Meu bairro... moro aqui... Macaxeira

Por Raquel Freitas e Vitor Chaplin
Fotos Vitor Chaplin


Centro Popular de Esporte e Lazer da
Macaxeira- Campo da União 
Para quem não mora no Recife talvez fique difícil distinguir os inúmeros bairros localizados na zona norte da cidade. Tudo isso porque o cenário é praticamente o mesmo, mas há quem discorde dessa afirmação. Para a dona de casa Severina Ramos, aquele local não é outro, é o bairro da Macaxeira. “Aqui é a Macaxeira, se você for mais para lá, chega a Nova Descoberta; passando por essas ruas aqui (diz ela apontando para a região), você chega ao Vasco da Gama”, afirma enfaticamente. É com essa hospitalidade que os conterrâneos recebem os visitantes da Agenda Cultura do Recife neste mês. Diferentemente de nós, que chegamos a confundir o pontilhado territorial, eles sabem bem onde moram: no bairro da Macaxeira.

É nesse misto de pertencimento e de singularidade que embarcamos nas histórias desse bairro e dos personagens que o constroem. Local este que leva o nome de um dos alimentos mais autênticos da comida regional, a macaxeira – conhecida em outras regiões como aipim ou mandioca-doce. Se antes ele era anônimo à vista dos recifenses e recebia o nome do simples e saboroso alimento, agora ele se torna o principal tracejado da nossa excursão. Então, com a licença dos moradores, damos as boas-vindas aos leitores, com a certeza de que essa viagem jamais terá volta.


Nosso guia Taubaté
Morador do bairro há 20 anos e líder comunitário há cinco anos, Antônio Higino da Costa, mais conhecido como Taubaté, diz que as mudanças estruturais e sociais do bairro foram muitas. Para ele, a principal delas está relacionada com a qualidade de vida, e que passa a ser evidenciada a partir dos ciclos de convívio social. “Aqui nesta quadra, reformada há pouco tempo, fazemos festas para a comunidade em datas comemorativas, como o São João, Festivais, entre outras coisas”, afirma o líder. Localizada no cruzamento da Rua Maria Amália, principal acesso ao bairro, com a subida da União, a quadra recebe os retoques das manifestações visuais, ou para quem preferir a famosa técnica do grafite.

Ao lado da quadra, num espaço descampado, conhecido como Campo da União, muitos garotos escaldam no sol da tarde. Ali eles correm atrás da bola e pouco se importam com o calor e com a poeira erguida cada vez que um chuta em direção ao gol. Segundo Taubaté, o campo existe há 50 anos, mas antes de se tornar público ele era mantido como propriedade privada. “Quando a prefeitura assumiu, descobriu-se que era comunitário, então ela teve que fazer todo o processo de reintegração de posse. Nesse período, houve a implantação de movimentos, como:  o futebol participativo e o circo popular”, garante. Além do futebol e do circo, o grupo da terceira idade também utiliza o espaço para praticar atividade física e também para aulas de dança. A dona de casa Redilamar Ricardo, que integra o grupo Força e União da comunidade, diz que o espaço trouxe muito benefício para o bairro. “Vamos promover encontros com outros grupos que usufruem do espaço com o intuito de sensibilizarmos as pessoas a cuidarem do ambiente público, infelizmente a nossa cultura interage de forma depreciativa com os espaços públicos”, assegura. 

Fernando Cavalcante
Edinaldo Arantes
Para o funcionário do campo, Fernando Cavalcante Albuquerque, a população pôde usufruir, depois da reintegração do campo, de todos os recursos de forma gratuita, ou seja, as atividades passam agora a se democratizar no bairro. Assim como os projetos sociais são importantes para o desenvolvimento de uma comunidade, a sustentabilidade assume um papel tão crucial quanto o primeiro. Fundada há cinco anos, a ONG “Centro de Defesa e da Natureza de Pernambuco” (Cedan) tem à frente um cidadão macaxeirense, o Sr. Edinaldo Arantes dos Santos. “Nós queríamos salvar o açude de Apipucos, então essa ONG foi criada por alguns moradores do Alto do Buriti, da Macaxeira e do próprio Apipucos com o objetivo de minimizar a problemática do açude”, garante. Um dos fatores que impulsionaram a criação desse centro de discussão foi o acúmulo de dejetos nas margens do açude, resultado dos despejos dos canais do Córrego do Genipapo, do Buriti, da Macaxeira e de Nova Descoberta. O trabalho da ONG resultou também em livro, organizado por Cleber de Barros e Edinaldo Arantes. A obra recebe o título Açude de Apipucos história e ecologia e tem textos de pesquisadores da UFPE e da UFRPE, cujo principal objetivo é buscar soluções socioambientais para o lago e para a vida dos ribeirinhos.
Praça Zumbi dos Palmares
Transformar o espaço público e o meio ambiente é de fato uma tarefa que cabe a uma população comprometida com o futuro. Essas atitudes nascem da forma mais genuína. É ali, nas praças, nas ruas, numa conversa na esquina que os afazeres comunitários se complementam. Para citar alguns desses espaços, temos: O Alto do Buriti, praça que antigamente dava lugar a um terminal de ônibus, a Praça Zumbi dos Palmares – centro dos ensaios dos integrantes do Maracatu Linda Flor, que atualmente é liderado por Lilinha do Maracatu, e a Praça do Buriti, local mais tranquilo do bairro.

Igreja Santa Maria Mãe de Deus
Nesta última praça é possível avistarmos senhoras conversando em frente as suas casas no final da tarde e percebemos que a mudança do bairro está estampada em suas fisionomias. Para a senhora Erenice Amorim (65), antigamente não havia tantas casas, era uma espécie de vila. “As construções cresceram de forma significativa”, garante a moradora. A praça também dá lugar à Igreja Santa Maria Mãe de Deus e à associação dos moradores do Buriti. Fundada desde 1984, a associação é presidida atualmente por Ailton Moraes. Para o vice-presidente, José Fernandes, a associação objetiva trabalhar pelo social. “Aqui o cidadão pode ter consultas médicas, aulas de violão, de karatê e aulas de dança para a terceira idade [Grupo do qual faz parte Dona Erenice Amorim e as demais senhoras]”, alega o vice-presidente. 

Academia da Cidade
Em direção à nova Academia da cidade, seguimos para a Avenida José de Almeida. Movimentada, a Academia recebe muitos moradores. É possível encontrar ainda no início da tarde moradores fazendo cooper, andando de bicicleta, conversando nas mesas. “A praça ficou ótima, mas precisamos continuar com a manutenção para que ela permaneça do mesmo jeito”, enfatiza a moradora que há 20 anos mora no bairro, Maria de Fátima Nascimento.

Antiga fábrica de tecidos
Por último, vamos conhecer um dos mais importantes cartões postais do bairro, a fábrica de tecidos da Macaxeira. Comprada em 1924 pelo comerciante Othon Lynch Bezerra de Mello, a então Fábrica de Tecidos de Apipucos se transformou em Cotonifício Othon Bezerra de Mello. O conglomerado têxtil começou a se destacar fazendo com que a fábrica ficasse conhecida popularmente como a Fábrica da Macaxeira. Abrigando mais de dois mil funcionários na época, o espaço empregou muita gente. Ainda funcionário da fábrica, só que agora em outra função (de tecelão a vigia), Severino de Freitas confirma a importância da fábrica para o bairro e ainda arrisca uns palpites sobre as possíveis assombrações no antigo prédio. “Certo dia, um amigo nosso, que estava trabalhando à noite, saiu daí correndo dizendo que o muro estava se aproximando dele”, afirma ao som de risadas.

Longe desse aspecto fantasmagórico, talvez influência dos escritos de Gilberto Freyre em Assombrações do Recife Velho, o bairro da Macaxeira recebe os retoques de uma realidade bem papável. As lendas chegam carregadas de um cenário fantasioso e que motiva cada vez mais aquele espaço a se tornar patrimônio da memória de um povo. E assim, o bairro da Macaxeira deixa registrado em nossa história os pontilhados de uma época, e que a partir de agora passam a ser evidenciados. 

Escola Pernambucana de Circo

Escola Pernambucana de Circo

Surgido no Recife no ano de 1996, idealizada por Boris Trindade Jr. (acrobata) Zezo de Oliveira (biólogo e educador social), a Escola Pernambucana de Circo (EPC) veio para promover a arte circense, transformar a vida de crianças, adolescentes e jovens do bairro da Macaxeira e fortalecer a identidade cultural, o vínculo social e os valores da cidadania. Desde 2002, a EPC vem trabalhando na comunidade da Macaxeira, zona norte do Recife. Com sua fachada imponente, é ali que os jovens buscam a mudança em suas vidas, com aulas de circo.
A Escola promove não só o fim da ociosidade, mas possui um trabalho fortemente pedagógico, de valorização do desenvolvimento humano, o que faz com que esses jovens possam alcançar objetivos que vão muito além da perspectiva que elas almejaram para si mesmas. Com mais de dez anos de atividades, a Escola vem formando cidadãos em artistas e transformando em realidade o talento desses jovens.
Os encontros ocorrem três vezes por semana, com aulas de até 4 horas. Eles trabalham com as principais modalidades conhecidas do circo, como palhaços, acrobatas, trapezistas e diversas outras modalidades.
As matrículas estão abertas para crianças e adolescentes, dos seis aos quinze anos, no final de janeiro (última semana) e na primeira semana de julho.
Como forma de arcar com os recursos para continuar realizando o projeto, a EPC oferece serviços/produtos artísticos e pedagógicos a quem se interessar em contratar o grupo circense. Alguns desses serviços envolvem: performances circenses, palestras, oficinas para educadores e o público jovem, oficina de aprimoramento artístico, além de aluguel de equipamentos circenses.
Ao longo dessa jornada, a EPC recebeu os prêmios Bahia de Cidadania 2003 e os Prêmios de Estímulo ao Circo da Funarte-MinC em 2004, 2005, 2006 e 2009. Em 2007, a EPC foi agraciada com o Prêmio Escola Viva; em 2008, com o Prêmio Ludicidades; em 2009, com o Prêmio ASAS; e em 2010, com os Prêmios Agente Escola Viva e Agente de Cultura Viva, todos do Ministério da Cultura, dentro das ações do Programa Cultura Viva. Ainda em 2010, a EPC foi agraciada com o Prêmio Orilaxé – que significa “a cabeça tem o poder da transformação” – do Grupo Cultural Afroreggae (RJ) na categoria projeto social. 
Em 2008, a EPC realizou o seu maior sonho: conquistar a sua sede, que foi batizada pelos jovens da Trupe Circus e pelos educandos da instituição de Centro Circo da Juventude. Essa conquista se deu graças ao apoio da Oxfam.
Atualmente o trabalho da Escola Pernambucana de Circo é reconhecido por organizações internacionais como a do Cirque de Soleil.

Atendimento Pedagógico:
As atividades pedagógicas estão atreladas ao exercício das crianças como agentes sociais, criando seu próprio processo educativo, criativo, artístico e pedagógico.
Roda
Espaço onde os jovens podem expressar livremente as sensações oriundas do convívio pessoal/familiar e escolar.
Aquecimento
De extrema importância, o aquecimento é necessário para desenvolver qualquer atividade corporal. Essa atividade está ligada à questão da segurança por ser uma preparação de todas as modalidades.
Brincadeiras
Os jogos e brincadeiras estão presentes no dia a dia das atividades, pois assim os educadores observam a identidade e a personalidade dos alunos. Trabalham a forma de relacionamento entre eles, para instruí-los na forma de conviver com limites e regras, perdas e ganhos, circunstâncias que envolvem a vida de todos.
Atividades Externas:
A EPC também realiza atividades externas/passeios, garantindo o acesso aos bens culturais da cidade.
Serviço:                                                                                                                                                         Público atendido: adolescentes e jovens de 16 a 29 anos 
Horário das aulas: terças, quartas e quintas das 18h30 às 21h30                                                                                                                                    
Endereço: Avenida José Américo de Almeida, n° 5, Macaxeira,  Recife - PE / Fone: 3266-0050              www.escolapecirco.org.br/

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