Foto: Divulgação


Inicialmente apresentado ao mundo em 2003, provocando debates e mudanças na realidade de famílias inteiras que viviam debaixo das pontes do Recife, o livro Recife Debaixo das Pontes inspirou a exposição que será aberta ao público nesta segunda (30), às 14h, na Galeria Franz Post, no Espaço Cultural Maria Helena Marinho, Recife Antigo. O evento é uma homenagem do Movimento Pró-Criança ao fotógrafo Edmond Dansot, que assina a curadoria da obra e foi um grande colaborador da instituição, responsável pela ressocialização, acolhimento e educação complementar e formação artística e profissional de crianças e jovens em situação de risco ou exclusão social.

Foto: Divulgação
As imagens foram feitas por jovens que na época eram alunos da ONG. Na abertura do livro, que poderá ser adquirido no local da exposição, Edmond Dansot escreveu: “Em Recife Debaixo das Pontes, as imagens produzidas pelos jovens talentos do Movimento Pró-Criança substituem muitas palavras... Ângulos novos, inesperados, contraluzes, preto e branco admiráveis, movimentos diferentes em ambientes também diferentes, para onde poucos direcionam o olhar... Espero que essas imagens selecionadas, fortes, sentidas e fixadas por esses ‘aprendizes’ sejam um grande estímulo para eles. A nova geração de talentos do Pró-Criança mostrará o quanto se pode fazer com insumos de amor, devotamento, orientação e solidariedade, pensando no amanhã”. Dos ‘aprendizes’ citados no depoimento, muitos atuam hoje no mercado de trabalho como fotógrafos, incluindo até nomes que fizeram carreira internacional e hoje vivem fora do Brasil. “Um deles, Júnior Santos (juniorfoto@yahoo.com.br) tem um estúdio de fotografia em Zurich, terminou a Universidade de Zurich e comprou um apartamento para a mãe, que morava num quartinho muito pobre aqui. Tem outro que é professor universitário, Jesuel Santana (jesuelsantana@gmail.com) e vários outros que vivem hoje da profissão”, ressalta Sebastião Barreto Campello, presidente do MPC.
“Temos ainda vários exemplares do livro e queríamos fazer a nossa homenagem a Dansot, então decidimos fazer a exposição, abrindo ao público também esse lado delicado e generoso do fotógrafo francês e ao mesmo tempo tão pernambucano que trabalhou como voluntário conosco por tanto tempo e contribuindo de um jeito extremamente valioso”, diz Sebastião. Como a edição encontra-se esgotada, os últimos livros estarão disponíveis apenas durante o evento. De 2003, quando foi inicialmente lançado, pra cá, muitas coisas mudaram e o livro é a comprovação viva de que investir na cultura como meio de inclusão social vale a pena. Ao todo, a publicação apresenta 80 fotografias em preto e branco, destas imagens 23 foram ampliadas e estarão na exposição no formato 13x18 cm e outras 24 no formato 30x45 cm.

Foi em 1988 que a equipe do Pró-Criança teve a ideia de criar o curso de fotografia, com o objetivo de profissionalizar os jovens em situação de risco e promover por suas mãos a documentação da realidade de suas próprias comunidades. “Dansont contribuiu desde o início do projeto da escola de fotografia e sempre que precisávamos ele nos dava uma força e estava sempre aberto para nos ajudar. Várias vezes levava os resultados dos alunos para que ele desse uma olhada e muitas vezes ele vinha para sala de aula dar sua contribuição”, conta Cristina Albuquerque, professora do curso de fotografia que funciona na unidades do Movimento Pró-Criança dos Coelhos. “O Dansot professor de francês e extraordinário fotógrafo já é bastante conhecido. Mas é também ao Dansot generoso e humanista que gostaríamos de dedicar esta exposição”, diz Sebastião Barreto Campello, presidente do Movimento Pró-Criança e amigo do fotógrafo, que morreu na madrugada do último dia 30 de março, há um mês, deixando um acervo riquíssimo com várias imagens que mostram o cotidiano do povo nordestino desde a década de 1940.

A publicação traz textos e poesias de Maria do Carmo Barreto Campello, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Marcus Accioly. As fotografias são de Josen Raquel, Júnior Santos, Marcos Aurélio, Paulo César, Rosely Umbelina, Glauco Pereira, Martha Paranhos, Jesuel Santana, Stênio Cleber, Eilyson Rodrigues e Kléber Francisco. O olhar diferenciado dos fotógrafos iniciantes documenta a realidade de famílias inteiras que viviam sob as pontes do Recife. Na publicação é possível conferir também um pequeno histórico de cada uma delas: Ponte Maurício de Nassau, Ponte do Limoeiro, Ponte da Boa Vista, Ponte 12 de setembro (Giratória), Ponte Buarque de Macedo, Ponte Princesa Isabel, Ponte Duarte Coelho, Ponte Velha (6 de Março) e Ponte Agamenon Magalhães.

Inicialmente, a ideia era que o livro retratasse aspectos turísticos das pontes da cidade, a partir de uma sugestão dada pelo professor em sala. Mas os próprios adolescentes pediram para que as fotos mostrassem a realidade dos que viviam debaixo das pontes. Sugestão aceita, com o objetivo de sensibilizar as autoridades e a população em geral.

Durante o desenvolvimento das fotos, o Movimento Pró-Criança escalou um grupo de assistentes sociais para ajudar as pessoas que moravam debaixo das pontes. No decorrer do trabalho, foram desenvolvidas diversas ações sociais, entre elas a emissão de carteiras de identidade, certidões de nascimento, etc. Várias pontes passaram pelo olhar das lentes fotográficas, mas as duas pontes que exibiram a situação social mais complicada foram a do Limoeiro, no Recife Antigo, abrigando sete famílias, e a ponte Governador Paulo Guerra, mais conhecida como Ponte do Pina, onde existiam oito famílias morando. Ao todo, o grupo encontrou um total de 27 crianças vivendo debaixo das pontes, em situação de miséria. “Em qualquer uma delas, cenas de gente tendo que se locomover com água na altura dos joelhos eram comuns. Se a maré estava cheia, sair de ‘casa’ também era algo difícil, pois a água invadia os espaços. Mas isso também mudou. Depois do lançamento do livro, a Prefeitura do Recife realizou um amplo trabalho e retirou estas pessoas dessa situação de miséria. Não sabemos como está a questão hoje e o debate tem o objetivo de também reavivar o assunto”, diz Cristina.

A direção fotográfica do livro Recife Debaixo das Pontes foi de Alan Neves; com coordenação de assistência social de Tânia Maria Pereira; pesquisa de Alessandra Lacerda; acompanhamento de Cristina Cavalcante e coordenação do setor de fotografia, projeto e direção geral de Teresa Cristina de Albuquerque. A curadoria do livro é do francês Edmond Dansot e a curadoria da exposição que será inaugurada nesta segunda foi de Cristina Albuquerque.

Como o Movimento Pró-Criança necessita da ajuda financeira de terceiros para dar andamento ao seu trabalho, o livro – que custou R$ 40 mil – foi viabilizado com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Agência Aliança, Gráfica Santa Marta, InterCidadania, Fundaj, Maga Multimídia e Papier Representações. Ao todo, foram confeccionados dois mil exemplares, destes sobraram apenas 400, que estarão sendo vendidos durante a mostra. A renda será revertida para os trabalhos do Pró-Criança.

Serviços:
Exposição Recife Debaixo das Pontes
Abertura nesta segunda-feira (30), às 14h
A mostra estará aberta a visitações até o dia 04 de maio, na Galeria Franz Post, no Espaço Cultural Maria Helena Marinho/Movimento Pró-Criança, na Rua Vigário Tenório, 135/143, Recife Antigo, das 8h às 16h45, de segunda a sexta.
Informações pelo telefone 3425.4450
Entrada gratuita

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Paixão Segundo José Francisco Filho estreia nesta quarta-feira 27 no centro do Recife

Ivonete Melo

Última semana para conferir exposição que homenageia o Galo da Madrugada no Paço do Frevo