Gigante do Samba: a união faz a força

Integrantes comemoram o pentacampeonato

Por Gianfrancesco Mello
Fotos Joás Benedito

Setenta anos de história. Quem diria que aquela brincadeira de amigos jogando bola e que decidiram foliar no Carnaval batendo em latas de doce iria ganhar grandes e memoráveis proporções? Fundada em 16 de março de 1942, no Alto do Céu, em Água Fria, a Escola de Samba Gigante do Samba é uma das mais antigas que desfilam no Carnaval do Recife. Entre seus fundadores, estiveram Luiz Ferreira de França (Zacarias), Humberto Oliveira, Luiz Rodrigues da Silva Melo e Ademar Paiva (Portela).

O primeiro nome dado à Escola foi Garotos do Céu. Apenas em 1974, ou seja, 32 anos depois seu nome mudou oficialmente para Grêmio Recreativo Escola Gigante do Samba. Suas cores oficiais são o verde e o branco e tem como símbolo uma águia, que aparece no centro do Pavilhão da Agremiação.


Novos integrantes já possuem o coração verde e branco
Quem lembra bem de como tudo começou é a senhora Maria do Carmo Lima, de 73 anos, popularmente conhecida como Dona Carminha. Desde criança, ela sempre participou direta ou indiretamente das saídas do Grêmio. “Comecei a sair na escola desde pequena, mas eu tinha duas tias que eram muito católicas e não gostavam de Carnaval e por isso, eu não saía com tanta frequência quanto eu gostaria. Naquele tempo, não tinha passarela, desfilávamos a pé. Lembro que saíamos às 8 horas e só retornávamos às 17 horas. Antes não existia samba-enredo. Era um samba de entrada e tinha outro que recolhia”, explica Dona Carminha, que ainda participa ativamente das festividades da Gigante do Samba.

Outra figura importante é Manuelzinho da Gigante, como gosta de ser chamado. Ele chegou à comunidade aos 13 anos e fez parte da história da escola. “Fui trazido para fazer parte da Gigante do Samba por Amaro de Brito, que já era integrante da escola. Com o tempo, fui morar no Rio de Janeiro e, de 1963 até 1964, convidaram-me para voltar ao Recife e ficar à frente da bateria da Gigante. Depois disso, voltei ao Rio de Janeiro e, em 1977, mandaram me buscar novamente para dirigir a bateria. Com a experiência, tornei-me compositor e, atualmente, integro a Ala dos Compositores.”

A Escola, que já se apresentou em outros estados brasileiros, conquistou 56 campeonatos do Concurso de Agremiações Carnavalescas e, em 2006, foi vice-campeã do Grupo Especial. Antigamente, a Gigante do Samba realizava sambões, contando com a presença de sambistas nacionais como Leci Brandão e Sandra de Sá. Atualmente, a Agremiação, que desfila com mais de 2,4 mil integrantes e é presidida por Rivaldo Figueiredo de Lacerda, realiza todos os domingos A mistura que dá certo (brega e pagode), das 18 às 24 horas. A partir do dia 1º de maio, quando é comemorado o Bacalhau da escola, os ensaios da bateria retornam para aquecer os verde e branco.

No Carnaval deste ano, a Escola de Samba Gigante do Samba conquistou o pentacampeonato. E para comemorar esse título e também os seus 70 anos de fundação, a Agenda Cultural do Recife entrevistou alguns integrantes da escola e perguntou sobre a relação de cada um com a Gigante do Samba.

Agenda Cultural – Como foi a sua chegada ao Grêmio Recreativo Escola Gigante do Samba e, atualmente, qual a sua contribuição para com a escola?

Belo Xis, cantor, compositor e puxador – Eu morei um tempo no Rio de Janeiro e, quando voltei ao Recife, eu me integrei à Escola de Samba Estudantes do São José. Alguns anos se passaram e Hilton de Oliveira e Zuca Show me convidaram para eu fazer parte da Gigante do Samba. Lembro que era em cima do Carnaval e, naquela época, eu já estava compondo. Eu tinha uma forte relação com a Gigante porque meus tios eram daqui. Mas meu pai era do Bairro de São José, consequentemente, gostava da Estudantes de São José e não me deixava sair em outra escola que não fosse a dele. Meus tios começaram a conversar com meu pai e pediram para eu fazer parte da Gigante do Samba. Com o tempo, ele cedeu e eu vim para cá contando com muitos compositores como Manuelzinho, que é um baluarte, e Hilton de Oliveira. Eu sou o terceiro compositor ativo mais antigo da escola. No decorrer desses anos, ganhamos muitos títulos e, neste ano, fomos pentacampeões com a homenagem que fizemos ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Estou feliz por ter ganho esse título inédito.

Hilton de Oliveira, presidente dos compositores – Eu não tinha nem noção do que era samba. Meu pai fazia parte da “Escola de Samba Milionário do Ritmo” e não queria que eu saísse com minha mãe, que era da Gigante. Mesmo assim, desde pequeno, comecei a sair, pois minha mãe me fantasiava para ser o mascote da escola. Com o passar dos anos, fui morar no Rio de Janeiro e, quando voltei, decidi colocar algumas novidades na Gigante. Fui buscar Belo Xis e já tinha buscado Geraldo Costa para ingressar na Gigante. Com as mudanças, a Gigante começou a se destacar nos concursos novamente. Atualmente, já estou no meu segundo mandato como presidente dos compositores da Gigante do Samba.

Aldir Felicidade, puxador – Eu fazia parte da Couro de Bode, mas sempre tive admiração pela Gigante do Samba e quando eu chegava aqui, encontrava compositores como Manuelzinho, Belo Xis e Hilton. Eu sempre me inscrevia para cantar e quando estava chegando a minha vez, chegava algum outro compositor mais antigo da escola e a prioridade de cantar era deles. Com isso, eu sempre ficava para depois. Mas eu não desisti, estava decidido a alcançar o meu objetivo. Atualmente, sou intérprete da escola e segunda pessoa de Belo Xis. O meu sobrenome foi dado pelos integrantes da escola e, por isso, hoje sou Felicidade.

Damião Gomes, mestre de bateria – Entrei na escola em 1981. Sempre tentava me infiltrar por aqui e me cortavam. Mas aconteceu comigo o mesmo que aconteceu com Aldir Felicidade: decidi alcançar o meu objetivo. Eu consegui entrar na Gigante do Samba em 1983 na bateria mirim. Quando a presidência da época percebeu o fortalecimento da bateria das crianças, trouxeram-me para a bateria adulta. Em 1986, quando a presidência viajou para a Europa, ficamos segurando a onda da bateria por aqui. Em 2007, deram-me a oportunidade de ser mestre de bateria. Hoje, eu estou dentro de uma escola de alto nível.

Luiz de Oliveira, cantor e compositor – Eu sou do Rio de Janeiro e vim morar no Recife. No ano passado, por estar trabalhando muito, não pude participar do desfile da Gigante do Samba. Neste ano, programei-me e cheguei justamente quando a escola foi penta.

Erika Nascimento, rainha de bateria – Cheguei aqui no ano de 2009 para participar do concurso de rainha de bateria e fiquei em segundo lugar, como princesa. Neste ano, a rainha precisou se ausentar e fui convidada pela diretoria para assumir o posto de rainha.

Luciene Araújo, porta-bandeira – Desde 2007, faço parte da Gigante do Samba e sou tricampeã no concurso de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Prefeitura do Recife. Tenho uma filha de 12 anos, que já está se preparando para receber o pavilhão, mas pretendo ficar por vários anos e minha filha vai ter que esperar mais um pouquinho.

Thiago Santos, Mestre Sala – Eu era de outro grupo no Morro da Conceição. Cheguei aqui convidado por amigos e comecei a ser ritmista; acabei passando um ano na bateria. Daí, fui convidado pela Luciene para acompanhá-la e já sou campeão do Concurso de Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Marivalda Nogueira, tesoureira – Estou aqui há cinco anos. Sou nova na casa, mas eu sou filha da comunidade. Eu sempre acompanhei a história da Gigante e teve um período que ela estava perdendo os campeonatos e, em conversa com amigos, decidimos levantar de novo a escola. Com o tempo, a então presidente da escola, Mãe Toinha, pediu para eu ser a tesoureira na gestão dela. Quando ela faleceu, o atual presidente me deixou no mesmo cargo. A nossa história vem muito da frase “a união faz a força”. Por este motivo, vamos lutar pelo hexa, pois onde tem união tem dedicação.

Luiz Mário Bezerra, primeiro-secretário da escola – Meus pais sempre foram do samba. Sempre participávamos dos ensaios. Quando a Gigante começou a desfilar pelas ruas da Bomba do Hemetério, comecei a me integrar mais e sempre contribuindo com a bateria. Como tenho minhas opiniões, por motivos pessoais, fiquei afastado por alguns anos e quando eu voltei, há 20 anos, fui convidado para ser secretário.

Maria do Carmo da Silva, vice-secretária – Estou aqui desde 1997. Já passei por vários presidentes. Eu moro no Alto José do Pinho e sempre venho assistir os ensaios.

Silvia Mendes, diretora de Carnaval, diretora de ala e costureira – Sou de Timbaúba e quando vim morar aqui no Recife, conheci a família Paixão. Na época, eu tinha 22 anos e meu namorado pediu para escolher ele ou Gigante e eu escolhi a Gigante. Atualmente, sou costureira, diretora de Carnaval e diretora de ala. Meu coração tem dois donos: um verde e branco (Gigante do Samba) e o outro é tricolor (Santa Cruz).

Iara de Lima, diretora de Carnaval e costureira – Estou por aqui desde o ano de1973. Meus amigos sempre me chamavam para sair na Gigante do Samba e, depois dos 17 anos, decidi desfilar na escola fantasiada na Ala Pedrita e Bambam. Hoje, sou chefe da ala dos sambistas e costureira junto com Silva.

Edvaldo Fonseca de Oliveira, diretor de Carnaval – Comecei a ser chefe de ala em 1980 e estou na Gigante do Samba até hoje. É minha escola de coração.

Serviço:
Gigante do Samba
Rua das Crianças, 63, Bomba do Hemetério
Contato: (81) 3444 4656 

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